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domingo, 4 de maio de 2014

O estilo de vida ‘gleek’ e a exaltação do ‘loser’



Com um Ensino Médio às avessas, Glee trouxe ao mundo a cultura dos ‘losers’, termo usado para se referir àquele que sempre perde, que é humilhado, um fracassado. São jovens com valores próprios, identidade e uma marca: o jeito Glee de ser.

Glee é uma série televisiva musical comédia-drama estadunidense, que vai ao ar no canal Fox desde 2009, e atualmente se encontra na 5ª temporada. O enredo gira em torno do Clube Glee, o coral da escola fictícia William McKinley High School, localizada em Lima, Ohio. A trama da série segue esse coral, chamado de “New Directions” (Novas Direções), que compete nos circuitos de show choirs, enquanto os seus membros lidam com situações de relacionamento e questões sociais.

Geek pode ser definido como “técnico, doutor, autodidata, apaixonado pelo que faz e pelo que entende”. Atualmente, ser geek é comparável a ser nerd. Uma pessoa que se diga fã do seriado Glee pode ser chamada de ‘Gleek’. É a combinação das palavras ‘glee’ e ‘geek’. Tais pessoas que são consideradas nerds são tratados com forte bullying e considerados como ‘losers’ durante boa parte ou inteira passagem pela vida escolar, assim como os protagonistas do seriado por participarem de um coral. De forma jocosa, os fãs então juntaram as duas palavras com a finalidade de denominar o fandom. Fandom é uma palavra em inglês frequentemente utilizada para se referir às comunidades de fãs de determinado objeto (filme, livro, série, artista), uma abreviação de “fan kingdom”, ou seja, “reino do fã”. Assim, temos que os fãs constituem comunidades com seus rituais, práticas, símbolos e linguagem próprias.

Para os fãs da série, ser Gleek não consiste apenas em assisti-la:

Gleeks, o que significa ser um Gleek? Não somos apenas fãs de Glee. Somos aquelas pessoas que vivenciam situações parecidas com a história. Ser Gleek é ter orgulho de quem é não importando seu defeito, você nasceu desse jeito e está feliz assim. Ser Gleek é nunca parar de acreditar e lutar pelo sonho, porque um dia você irá alcançá-lo. Ser Gleek é sofrer e dar a volta por cima, porque o que vem de baixo não nos atinge, ao contrário, nos deixa forte!
(Biografia da fanpage do Facebook ‘Todo Gleek’.)

            A primeira impressão sobre os fãs da série Glee ainda é fortemente associada ao estigma de homossexuais, pessoas horizontalmente avantajadas, excluídos socialmente, e pessoas com tendência suicida ou problemas familiares, causado pelas situações embaraçosas e polêmicas que os personagens, os quais os fãs se identificam, se envolvem, tratando de questões como religião, sexualidade, liberdade de gêneros, entre outros. Contudo, a despeito desta imagem dominante, o número de fãs vem crescendo em todo o mundo.

            Neste exercício, entende-se a criação da identidade especificamente por meio de uma atividade de consumo, o seriado Glee, em torno do qual se constituiu uma subcultura de consumo. A formação de uma determinada subcultura está relacionada tanto a um engajamento emocional quanto com a formação da subjetividade do sujeito pós-moderno. Pertencer a uma subcultura significa partilhar um estilo de vida, e no mundo atual, isso pressupõe o consumo.

Os jovens experimentam e implantam Glee de duas maneiras. Primeiro, eles usam Glee como um roteiro para interpretar suas próprias experiências de vida, e imaginar como eles podem articular desejos estranhos e aceitação deles. Em segundo lugar, Glee funciona como um dispositivo estratégico usado para sinalizar identificações e níveis de consciência e aceitação de lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros (LGBT).

           Muitas pessoas ainda são céticas de que os jovens possam encontrar algo significativo ou revolucionário em Glee, como é retratado muita vezes na mídia. Muitas das histórias de Glee parecem clichê, problemáticas, ou mesmo ofensivas. Mas a partir do exercício etnográfico percebe-se que os jovens participantes usam Glee para apreciar e navegar em suas próprias sexualidades e experiências. Para os jovens, a representação contínua de minorias nos meios de comunicação é extremamente importante para abrir as experiências não apenas deles, mas também dos outros que podem vir a assistir.

            Os chamados Gleeks se engajam com o seriado como um objeto transmídia, bem como um objeto em um sentido simbólico cultural. Eles assistem com a família ou sozinhos, ao fazer trabalhos escolares, ou trocando mensagens pelo celular ou pela internet com os amigos. Trocam informações sobre o seriado em momentos diferentes, por telefone, pessoalmente, por Facebook e Twitter. Também assistem ao show com diferentes grupos de amigos, através de DVD`s quando podem comprar ou streaming.


            O pensamento de juventude como um estilo de vida para quem a globalização e a disseminação da mídia eletrônica, entre outros elementos, colocam o indivíduo frente a frente com um grande número de “escolhas” pode auxiliar no entendimento da marca da juventude Glee. A escolha por um estilo faz parte do imaginário dos personagens desse seriado, e logo, do imaginário dos fãs desse seriado.

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