Por Fernanda Furquim
Entre janeiro e março, o canal HBO
exibiu a primeira temporada de Looking, série criada
por Michael Lannan com base em seu curta-metragem, Lorimer.
Já renovada
para sua segunda temporada, a série narra a vida de três
amigos homossexuais morando em São Francisco.
Esta é a primeira produção da TV
americana voltada para o universo gay (com uma abordagem adulta) desde o fim de Queer as Folk (remake
de série britânica) e The L Word.
Geralmente relegado a comédias, onde são retratados de forma
caricaturada, ou melodramas, onde precisam lutar por seu espaço na sociedade,
os gays começaram a se destacar no universo dos seriados americanos na década
de 1970.
A sitcom The Corner Bar teve apenas dezesseis episódios
produzidos entre 1972 e 1973, mas serviu para se tornar a primeira série a
introduzir um gay em seu elenco recorrente, nos EUA.
Embora
figurasse em episódios aqui e ali, o tema foi tabu durante muitos anos. No
final da década de 1970, duas outras sitcoms abordariam a relação do
homossexual com a sociedade americana. A primeira foi Um é Pouco, Dois é
Bom e Três é Demais/Three’s Company, na qual John Ritter interpreta
um heterossexual que finge ser gay para poder convencer o senhorio a deixá-lo
dividir um apartamento com duas mulheres solteiras. A segunda foi Soap, sátira
das novelas americanas, onde Billy Crystal interpreta o filho gay de uma
família disfuncional. Na década de 1980, com o surgimento da AIDS, o personagem
foi trazido mais vezes às tramas das séries americanas, em especial as
dramáticas, sendo Dinastia uma
das primeiras. Nesta, Steven, o filho de Blake Carrington (John Forsythe),
assume sua homossexualidade, que não é aceita pelo pai.
Nos anos de
1990, a sitcom Ellen escancarou as portas permitindo que
este segmento se tornasse uma presença permanente na televisão. Após quatro
temporadas tentando encontrar seu par ideal, a personagem (e atriz) assume sua
homossexualidade na última temporada. Desde então, novas produções surgiram
introduzindo gays em seu elenco regular. Outras, como Will & Grace, The
New Normal e as já
mencionadas Queer as Folk e The
L Word, tinham como objetivo acompanhar a vida de personagens gays.
O tema, portanto, não é novo. O que Looking traz
de bom é a forma como aborda o tema.
Sem levantar bandeiras ou ficar passando lições de moral para o
telespectador, a série retrata a rotina de vida de personagens gays com a mesma
naturalidade que narraria as relações entre casais heterossexuais. O tema
da série não é o estilo de vida dos personagens, mas seus sonhos e desejos e a
forma como eles tentam realizá-los.
Os personagens de Looking não
precisam lutar por um lugar na sociedade, eles já fazem parte do cenário local.
Sem ter que pedir licença para coexistir, eles vivem suas vidas, trabalham e
mantêm seus relacionamentos.
Nesta primeira
temporada o protagonista é Patrick (Jonathan Groff,
de Boss e Glee), um
jovem com quase trinta anos de idade, que trabalha como designer de video game.
Ele assumiu sua homossexualidade quando ainda era adolescente, mas ao longo da
vida teve apenas um namorado.
Novamente solteiro, ele está à procura
de um novo relacionamento que seja significativo e não apenas um caso de uma
noite ou final de semana. O problema é que Patrick não sabe como criar uma
relação sincera com um parceiro. Inseguro de sua própria sexualidade, Patrick
assume uma postura esnobe quando sai à caça, seja no parque, sites de encontros
ou nos bares.
Ele acaba encontrando Richie Donado (Raúl
Castillo) um mexicano que lhe apresenta o choque de culturas.
Richie é um homem sem ambição de subir na vida, se contentando com o trabalho
de barbeiro e bicos que faz como porteiro de um clube noturno. Os dois iniciam
um relacionamento de idas e vindas, que deverá se estender por mais algum
tempo. Inicialmente, Patrick, com sua mente estreita e pré-moldada, assume uma
postura de superioridade em relação à Richie, mas logo se torna dependente das
opiniões e atitudes do parceiro.
Apesar de
gostar de Richie, Patrick parece ter mais afinidade com Kevin (Russell
Tovey, de Him & Her), seu
chefe, que está mais próximo de seu universo. Os dois têm os mesmos interesses
e visão de mundo, embora Kevin também seja estrangeiro (ele é britânico). Por
sua vez, Kevin está dividido entre seu interesse por Patrick e seu
relacionamento com o namorado, que no início da série mora em outra cidade.
Os demais protagonistas da série
são Augustín (Frankie J. Alvarez) e Dom (Murray Bartlett).
No início da história, Augustín, que dividia um apartamento com Patrick, decide
morar com o namorado Frank (O-T Fagbenle).
Esta não é uma relação saudável. Augustín não tem interesse de morar com o
parceiro, mas atende o pedido do namorado e se muda para a casa dele. Temendo
perder sua liberdade, ele consegue manter um relacionamento aberto com Frank, o
que o leva a envolver um terceiro parceiro em suas relações sexuais sempre que
possível. Algo que Frank, a princípio, não é contra. Augustín também tem
problemas em sua vida profissional. Artista plástico frustrado, ele não é capaz
de se expressar através de sua arte. Este parece ser o personagem que terá uma
trajetória mais longa e conturbada em relação aos outros dois.
Dom, o
terceiro membro do grupo, é um homem que está entrando na crise dos quarenta.
Acomodado em sua profissão de garçon e mantendo diversos relacionamentos
ocasionais com rapazes, Dom deixou a vida passar. Atualmente ele divide um
apartamento com a amiga Dóris (Lauren Weedman),
uma enfermeira que o mantém com os pés no chão.
Há alguns
anos, Dom teve um relacionamento sério com Ethan (Derek
Ray, visto em Mad
Men), um viciado em drogas com quem gastou suas economias. Desde
sua separação, ele foge de compromissos, preferindo se envolver com rapazes a
quem pode controlar. Mas, quando descobre que o ex se tornou um bem sucedido
homem de negócios, Dom acorda e percebe que precisa fazer alguma coisa para
mudar o rumo de sua própria vida.
Correndo
contra o tempo, ele decide montar um restaurante especializado em frango
português. Buscando um sócio com dinheiro, Dom encontra Lynn (Scott
Bakula, de Quantum
Leap), um empresário que ele conhece em uma sauna. É curiosa a
escolha de Bakula para interpretar o homem que vai ajudar Dom, visto que o
personagem de Bartlett está na mesma situação que o de Bakula em Men of a Certain Age.
Don consegue convencer Lynn a se tornar seu sócio, mas o ego de Dom e seu
repentino interesse por Lynn (muito mais velho que os rapazes com quem costuma
se envolver) podem colocar tudo a perder. Esta história terá um desdobramento
na segunda temporada.
Quem gostou de Looking pode conferir a série australiana Please Like Me. Embora não seja tão boa quanto a produção
americana, também traz uma abordagem mais simples e sincera do universo gay.
Esta série ainda não estreou no Brasil, mas está disponível no mercado
internacional de DVD.